Rawphøtology não é um projecto dedicado à Fotografia. É um projecto dedicado às pessoas. Um projecto que enaltece as pessoas que fotografei e fotografo a cada dia, é certo; mas um projecto de Pessoas. Pessoas que gostam de si próprias, pessoas que gostam de e das pessoas e que se importam verdadeiramente com elas. Não com o que elas dizem ou fazem na vida, mas com o que elas são na vida e fazem pelas pessoas.

A Rawphøto nasceu como a marca que designa a minha forma de fotografar, de sentir a Fotografia e de ver as pessoas que fotografo. À medida que fui fotografando, senti desde logo que a Rawphøto não era pretensão, nem uma marca colocada num projecto de Fotografia somente para o diferenciar, mas uma marca que emergiu naturalmente de uma missão, da minha forma de fotografar e duma lógica que se assumiu e assume, a cada dia, como uma lógica de vida. A essa lógica, que extravaza o acto de fotografar e se estende à forma de ver o Mundo, de viver e de me relacionar com as pessoas, só podia dar-lhe um nome: Rawphøtology.

Porque a lente mais perfeita do mundo são os olhos, quem observa e vê as pessoas, fotografa-as, mesmo quando não tem uma câmara. Ver e fotografar são a mesma disciplina. Utilizam ambas a Luz como matéria-prima, mas enquanto os olhos fotografam o que vêem e o guardam na nossa memória,  reproduzindo-o de forma emocional, por palavras e afectos; a câmara grava informação, de forma exacta e impiedosa, seja ela factual ou emocionada. 

E porque os olhos são, também, a porta da frente da alma, quem é raw e se quer dar a conhecer ao mundo tal como é, olha de frente e fala com os olhos. Talvez por essa razão, é comum dizer-se que um retrato Rawphøto se reconhece pelo olhar. Mesmo quando os olhos se fecham, como prova de conforto e para tentarem ver melhor.

Tal como o pintor inicia o quadro com um esboço a lápis, também eu inicio cada retrato a partir da alma que os olhos me entregam. Porque a alma é a essência, a estrutura e razão primeira daquilo que vejo e retrato.

Ricardo Pereira da Silva